O Pingo Doce está ainda mais doce

Há empresários e gestores que deviam ser eternos. Depois de ver a entrevista de António Barreto a Clara de Sousa, no “Jornal da Noite”, da SIC, sobre o novo projeto da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), mudei para a RTP Informação e eis que me deparo com Alexandre Soares dos Santos.
Ora, não escondo que admiro um homem que já derrotou três cancros. Mas não escondo que admiro um homem que tem a coragem de criticar o sistema político, económico, social e judicial em que Portugal há muito está mergulhado, com apenas uma garrafa de oxigénio, respirando aos poucos, para não sufocar definitivamente.

Há dois meses, ainda que não neste espaço, defendi claramente a opção da Fundação Francisco Manuel dos Santos em mudar as suas ações para a Holanda. Por várias razões: melhores condições de financiamento, economia estável, acordo com a Colômbia – o que faz com que a FFMS não tenha de pagar dupla tributação pelos novos investimentos. Voltei-me contra os que acusavam Alexandre Soares dos Santos de falta de patriotismo, lembrando que em contra-ciclo com a Economia Europeia, a Jerónimo Martins continuou a investir em Portugal. No espaço de cerca de 500 metros, Soares dos Santos abriu dois Pingo Doce – na minha área de residência, São Domingos de Benfica. Falo do Pingo Doce da Azinhaga das Galhardas e do Pingo Doce junto ao Estádio da Luz. Numa altura em que Portugal recorria à ajuda externa e o país mergulhava na crise, na austeridade, a FFMS investiu. Criou emprego. Mata a fome a mais pessoas. Alivia o Estado. São cerca de menos 100 pessoas que, neste momento, recebem subsídios do Estado.

Aliás, contra esses “chicos-espertos” que abonam no nosso país, dei o exemplo de quem faz compras pelo Ebay, pela Amazon, ou por outras lojas eletrónicas internacionais. Comparei com os portugueses que moram junto à fronteira com Espanha e vão ao país vizinho abastecer os carros. Muitos defendiam o boicote ao Pingo Doce, defendendo as compras no Continente, no LIDL ou no Intermarché. Desconhecendo esses seres tão inteligentes que a SONAE tem a sua sede fiscal na Holanda. O LIDL é alemão e o dinheiro que lá gastamos é enviado para o país da senhora Merkel. O Intermarché é francês e os lucros são enviados para o senhor Sarkozy. Será Soares dos Santos menos patriótico do que um português que abastece em Espanha, ou compra no ebay, não pagando impostos? Quando se dizia que Soares dos Santos não era patriótico, dei o exemplo dos milhares de portugueses que fazem estas “pequenas poupanças”.

Voltando à entrevista, já sabia que a FFMS ia continuar a investir em Portugal, mesmo em contra-ciclo. No entanto, hoje voltei a confirmar que Alexandre Soares dos Santos é um homem de palavra. E se a António José Teixeira, Soares dos Santos tinha dito que, em maio, ia voltar a investir em Portugal, e que a FFMS ia continuar a desenvolver trabalhos na área social, hoje, a Cristina Esteves, isso foi confirmado. Alexandre Soares dos Santos voltou a frisar que em maio próximo a Jerónimo Martins vai investir em Portugal e, sabe-se, a FFMS, sob a alçada do sociólogo António Barreto, acaba de lançar um estudo que retrata a sociedade nacional, neste tempo de austeridade. O projeto “Conhecer a Crise” é feito pela FFMS que detém o site “Pordata” – portal de dados anuais.

Ora, a parte que mais me surpreendeu nesta bela conversa, que merecia muito mais tempo de antena, foi a parte em que voltei a ouvir Alexandre Soares dos Santos criticar a “mesquinhice” do povo português.

“Por que razão um primeiro-ministro tem de voar em económica, ao lado de um homem de calções e de t-shirt todo suado?”; “Por que razão a Força Aérea não compra aviões? Por pensar no que o povo vai dizer?”. Ora, uma vez mais, estou de acordo com o que diz Alexandre Soares dos Santos.

Sabemos bem que o cargo de primeiro-ministro não é fácil, qualquer cargo no governo não é fácil, sobretudo nesta altura de crise, de austeridade, de cortes. Relembro que Pedro Boucherie Mendes disse que os políticos em Portugal são maus porque “recebem mal, logo os melhores não estão lá”. E é verdade. Acham que Pedro Passos Coelho, Vítor Gaspar, Álvaro Santos Pereira, entre outros membros do governo, têm vida fácil? Entram às 9, saem às 10 para café, voltam a entrar às 10:30, saem às 12:30 para almoço e assim por adiante? Acham que às 5 da tarde, Pedro Passos Coelho desliga o computador do escritório e vai para casa? Ora, é mais do que óbvio que não. E se os políticos trabalham arduamente, merecem ser recompensados. Ter um bom salário, ter benefícios, ter condutor, etc.

O que me escandaliza são os maquinistas da CP, do Metro de Lisboa e os condutores da Carris que passam mais tempo em greve, trabalham 6 horas por dia, e usufruem de vários benefícios, ainda se manifestarem . O que me enoja são os benefícios que as famílias destes seres das empresas públicas de transporte têm!

Mas o que mais surpreendeu foi, quando Cristina Esteves perguntou a Alexandre Soares dos Santos se ia investir ou se ia despedir. A resposta do senhor da Jerónimo Martins foi, sucintamente:

Vou investir em Portugal. Em maio voltamos a falar. Fica prometido. Não vou despedir porque há outras maneiras de cortar que não sejam despedir os mais desprotegidos. Posso cortar no meu salário – que equivale a dezenas de salários de trabalhadores -, posso cortar no salário dos gestores, mas vou proteger os mais vulneráveis, os que menos recebem e os que mais fazem pela Jerónimo Martins. Vou aumentar os salários em cerca de 2% porque são os trabalhadores do Pingo Doce e do Recheio que fazem da Jerónimo Martins o que ela é. São eles que merecem ser recompensados. Não vou despedir e vou criar mais postos de trabalho. E se o mercado nacional cair – vão existir perdas – vou buscar lucros à Polónia.

É preciso dizer mais alguma coisa?

No dia em que se sabe que a administração da Autoeuropa vai partilhar os lucros da empresa com os trabalhadores, e se falou nos alemães como “modelos de justiça”, o português mais patriótico que conheço – mais do que o Presidente da República – mostra o grande gestor que é. Mas, acima de tudo, Alexandre Soares dos Santos mostra que é um homem de palavra. Um Homem com letra maiúscula!

Óscar Góis

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